Ensino híbrido valoriza a autonomia na implementação de itinerários formativos
Marlon Brunetta concedeu uma entrevista ao portal Porvir. Você pode conferir abaixo.
O ensino híbrido pode ser um aliado na hora de implementar os itinerários formativos no Novo Ensino Médio, na medida em que valoriza a autonomia dos estudantes. Ao combinar diferentes formas de estudar, misturando recursos em aulas presenciais, online e em plataformas digitais, os alunos fazem escolhas com mais liberdade e motivação, de acordo com especialistas.
Os itinerários formativos são unidades curriculares que possibilitam ao jovem aprofundar os conhecimentos e se preparar para concretizar seu projeto de vida, seja na educação acadêmica, na formação técnica profissionalizante ou em outras áreas de interesse. Correspondem a 40% da carga horária do Novo Ensino Médio. Os outros 60% são destinados à formação geral básica.
Podem ser oferecidos em diferentes formatos, como projetos, oficinas e atividades práticas, mas precisam ser estruturados a partir de quatro eixos: Investigação Científica, Mediação e Intervenção Sociocultural, Processos Criativos e Empreendedorismo.
Segundo o professor Marlon Brunetta, presidente-executivo da Moonshot Educação, os itinerários formativos tornaram a organização curricular mais flexível. “Uma das principais mudanças foi a disposição de disciplinas obrigatórias e optativas, permitindo ao aluno mais autonomia e escolha no percurso de aprendizagem.”
“Quando falamos de educação híbrida, vamos muito além de aulas presenciais e online. O significado é mais amplo, contempla o misturado, combinado, recursos unidos e conectados para uma aprendizagem mais efetiva. O grande ganho é combinar metodologias, áreas de conhecimento e atividades diferentes, possibilitando mais liberdade para que o aluno se adapte e aprenda no próprio ritmo”, afirma Marlon.
Na Plataforma AZ, os jovens podem trabalhar com conteúdos digitais por conta própria em momentos de projetos orientados dos itinerários formativos, contando com videoaulas, orientações na plataforma, feedback (retorno avaliativo) de atividades objetivas e respaldo do educador, de acordo com Natália Messina, gerente de produto da plataforma. “Tem um conjunto de elementos que estimulam a autonomia dos alunos de uma forma extremamente orientada, cautelosa e, sempre que necessário, com a ação do professor.”
Dentro dos itinerários, a formação técnica e profissional, que desenvolvem habilidades e competências para o trabalho, merecem destaque, dentro do contexto brasileiro, em que muitas famílias enfrentam dificuldades financeiras, segundo Marlon.
“Esta é a área que pode ser mais beneficiada, a aprendizagem para a vida e não apenas a preocupação com o conteúdo, a avaliação por nota e a aptidão para o próximo nível. O estudante deve ser preparado para o mercado de trabalho e para seus conhecimentos cotidianos”, diz o professor. Isso deve ser feito com o suporte de professores preparados para atuar neste cenário.
A tecnologia ajuda ainda a enriquecer a experiência do aluno com a introdução de novos temas e possibilidades de interações. “A educação híbrida, de fato, rompe as fronteiras. Se estiver aliado à proposta pedagógica fazer uma ligação de um escritório no Vale do Silício com alunos de Limeira (SP), a gente consegue isso hoje com uma facilidade, e com uma imersão, grande nesses universos, para os alunos entenderem certas dinâmicas e conseguirem essas experiências com uma riqueza de detalhes muito maior”, explica Natália.
Abordagens
As metodologias ativas devem ser exploradas na hora de aplicar a educação híbrida como uma forma de colocar os estudantes no papel de corresponsáveis do seu processo de aprendizagem. Algumas opções, de acordo com Marlon, são a rotação por estações, a sala de aula invertida, a aprendizagem baseada em projetos, a sala de aula quebra-cabeça, a aprendizagem baseada em times e a gamificação. “O que mais importa no uso dessas estratégias é fazer o aluno aprender a aprender, com suas próprias competências, com seu próprio estilo e ritmo.”
Um dos itinerários possíveis na Plataforma AZ, a partir do ano que vem, será o de Criação de Startups. Há várias perguntas a serem feitas, pesquisadas e respondidas. O professor pode ter uma conversa inicial com os alunos, contextualizando o tema e explicando quais são os objetivos, segundo Natália. Depois, os alunos passam para o trabalho online, com um grupo, para fazer a pesquisa. Retornam com o professor para tirar dúvidas e expor as dificuldades.
Outra opção é fazer uma sala de aula invertida, em que os alunos recebem as primeiras orientações e conceitos online, cada um com sua plataforma. Depois voltam com o professor para tirar dúvidas, entender como será a dinâmica e como iniciar os processos de pesquisa. “Há diversas formas em que a gente consegue trazer para a sala de aula e envolver os alunos com os temas”, diz Natália.
Durante a implementação dos itinerários, as escolas precisam acompanhar a rotina dos alunos, estabelecendo uma comunicação clara e pontual, com atenção à necessidade de mudanças de rumo, de acordo com a gerente. “O olhar sobre o que está dando certo e o que não está dando certo, para ajustar no próximo ciclo, é muito importante para as dinâmicas pedagógicas como um todo. O hibridismo traz mais uma camada de análise e exige uma atenção maior.”
Marlon pontua que é preciso lidar com as limitações de escolas e envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, que sofrem com a falta de estrutura e acesso a informações e tecnologias. “Reforço ainda a necessidade de uma formação continuada aos profissionais para que possam, em conjunto, trocar experiências de forma estruturada e se sentir mais preparados para o formato híbrido.”
Prática
O Colégio Santa Maria, em São Paulo, começou a implementar o Novo Ensino Médio em 2020, com as turmas da primeira série. Neste ano, acrescentou a segunda série e finalizará o processo em 2022, com a terceira série. Nas atividades de itinerários formativos, os alunos, que estudam em tempo integral, podem optar pelas áreas de linguagens, ciências humanas e sociais e ciências da natureza e matemática.
Contam ainda com eletivas como oficina de teatro; clube de voleibol; inovação e criatividade; inserção social; núcleo de estudos midiáticos; oficina de relações internacionais; redes de poder; clube de astronomia; luz, câmera e som; ciência na cozinha; nutrição e química experimental.
Com a volta às aulas presenciais, as atividades online e offline passaram a se misturar e se complementar, segundo Elizabeth Fantauzzi, professora de inovação e criatividade, laboratório de tecnologias digitais e laboratório de corpo e consciência. Todos os estudantes e professores têm acesso a notebooks individuais, conteúdos e plataformas digitais, rede wi-fi e suporte tecnológico.
“Na maioria das vezes, não há uma divisão específica entre o que é feito na sala, em momentos presenciais, no online e na plataforma. São atividades que podem ser desenvolvidas em qualquer modalidade, tais como roteiros de estudo, videoaulas, atividades de pesquisa, leitura e produção de texto, trilhas de aprendizagem, entre outras.”
De acordo com Silvio Freire, diretor do ensino médio da escola, o ensino híbrido é aplicado nas disciplinas do núcleo básico comum e nos itinerários formativos. “Trabalha em conjunto métodos de aprendizagem online e presencial, incentivando uma maior flexibilidade de ambientes e de horários, além da autonomia dos alunos e a personalização da aprendizagem.” Organizadas pelos professores, as atividades podem ser feitas pelos alunos, de forma mais autônoma, em diferentes espaços, além da sala de aula, como bibliotecas, laboratórios de informática, espaços públicos, pátio e outros.
No início, houve resistência de alunos, professores e pais, segundo Silvio, já que todos estavam acostumados apenas com aulas expositivas. Essa atitude muda, aos poucos, quando os resultados começam a aparecer, apesar que ainda exista estranheza. “Os alunos só acreditam depois que fazem as atividades e veem que foi interessante, que o ritmo do conhecimento deles foi respeitado, que foram ouvidos. Eles adoram a parte prática.”
Os educadores participam de encontros semanais com coordenadores de área e diretores, de acordo com Elizabeth, e contam com assessoria para desenvolver trilhas de aprendizagem para o ensino híbrido a partir do planejamento de aulas e uso de aplicativos. “As reuniões são um espaço de reflexão, de construção coletiva dos diferentes cursos e de articulação das atividades online e presenciais.”
A abordagem mais usada na escola é a sala de aula invertida, segundo Elizabeth, “por ser mais fácil de ser implementada pelo professor, dependendo unicamente dele e dos recursos que irá utilizar, como videoaulas, resolução de exercícios, roteiro de leituras e sequências didáticas.” Outra opção é a rotação por estações, usada na resolução de problemas e desafios e na introdução de novos temas.